sexta-feira, 16 de agosto de 2013

O sacrifício da filha de Jefté

 Trecho extraído da obra Dictionnaire Philosophique, de Voltaire

Jefté ou dos sacrifícios de sangue humano

Evidencia-se do texto do livro dos Juizes que Jefté prometeu sacrificar a primeira pessoa que saísse de sua casa para vir felicitá-lo pela sua vitória sobre os amonitas. Sua filha única se lhe apresentou; então ele lhe rasgou a roupa, imolando-a após ter-lhe permitido ir prantear nas montanhas a desdita de morrer virgem. Durante muito tempo as filhas judias celebraram essa aventura, chorando a filha de Jefté por quatro dias

Em que tempo essa história foi escrita, que seja uma imitação da história grega de Agamenon e Idomenéia ou tenha sido imitada, que lhe seja anterior ou posterior, não é isso o que examino; atenho-me ao texto: Jefté votou sua filha em holocausto e cumpriu o seu voto.
Ordenava expressamente a lei judaica que se imolassem os homens votados ao Senhor. “Nenhum homem votado obterá resgate mas receberá morte sem remissão”. A Vulgata traduz: Non redimetur, sed morte morietur

Foi em virtude dessa lei que Samuel cortou em pedaços o rei Agague, a quem Saul perdoara; e justamente por haver poupado Agague Saul foi admoestado pelo Senhor e perdeu o seu reino.

Eis, pois, sacrifícios de sangue humano claramente estabelecidos; não há ponto histórico melhor averiguado. Não se pode julgar de uma nação a não ser por seus arquivos e pelo que ela refere de si própria.

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