Trecho extraído da obra
Dictionnaire Philosophique, de Voltaire
Jefté ou dos sacrifícios de
sangue humano
Evidencia-se do texto do livro dos Juizes que Jefté
prometeu sacrificar a primeira pessoa que saísse de sua casa para vir
felicitá-lo pela sua vitória sobre os amonitas. Sua filha única se lhe
apresentou; então ele lhe rasgou a roupa, imolando-a após ter-lhe permitido ir
prantear nas montanhas a desdita de morrer virgem. Durante muito tempo as
filhas judias celebraram essa aventura, chorando a filha de Jefté por quatro
dias
Em que tempo essa história foi escrita, que seja
uma imitação da história grega de Agamenon e Idomenéia ou tenha sido imitada,
que lhe seja anterior ou posterior, não é isso o que examino; atenho-me ao
texto: Jefté votou sua filha em holocausto e cumpriu o seu voto.
Ordenava expressamente a lei judaica que se
imolassem os homens votados ao Senhor. “Nenhum homem votado obterá resgate mas
receberá morte sem remissão”. A Vulgata traduz: Non redimetur, sed morte
morietur
Foi em virtude dessa lei que Samuel cortou em
pedaços o rei Agague, a quem Saul perdoara; e justamente por haver poupado
Agague Saul foi admoestado pelo Senhor e perdeu o seu reino.
Eis, pois, sacrifícios de sangue humano claramente
estabelecidos; não há ponto histórico melhor averiguado. Não se pode julgar de
uma nação a não ser por seus arquivos e pelo que ela refere de si própria.
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