domingo, 20 de setembro de 2015

Cristianismo e Tempo Linear

A tese defendida por Mircea Eliade em sua obra “O Mito do Eterno Retorno” é que a mais importante diferença entre o homem das sociedades arcaicas e tradicionais, e o homem das sociedades modernas, com sua forte marca judaico-cristã, encontra-se no fato de o primeiro sentir-se indissoluvelmente vinculado com o Cosmo e os ritmos cósmicos, enquanto que o segundo insiste em vincular-se apenas com a História. Mas para isso temos que analisar primeiro a relação destas duas religiões com o tempo linear, lembrando que, na opinião de muitos estudiosos, o judaísmo é a primeira religião da história conhecida.
Mircea Eliade vê as religiões abraamanicas como um ponto de divisão entre a antiga visão cíclica do tempo e a moderna visão linear do tempo, notando que, no caso delas, os eventos sagrados não estão limitados à uma era primordial distante, mas continuam através da história: “o tempo não é [apenas] o Tempo Circular do Eterno Retorno, ele se tornou o Tempo Linear e irreversível”. Ele então vê o Cristianismo como exemplo final de uma relação que abraça o tempo linear e histórico. Quando Deus se torna um homem, dentro da linha da história, “toda a história se torna uma teofania”. De acordo com Eliade, o “Cristianismo se esforça para salvar a história”. No cristianismo, o Sagrado entra em um ser humano (Cristo) para salvar humanos, mas ele também entra na história para “salvar” a história e transformar eventos históricos ordinários em algo “capaz de transmitir a mensagem trans-histórica”.
Da perspectiva de Eliade, a mensagem trans-histórica do Cristianismo pode ser a mais importante ajuda ao homem moderno poderia ter ao confrontar o terror da história. Assim, ainda na perspectiva de Eliade, a história de Cristo se torna o mito perfeito para o homem moderno. No cristianismo, Deus de bom grado entrou no tempo histórico ao nascer como Cristo, e aceitou o sofrimento a ser seguido. Por identificar-se com Cristo, o homem moderno aprende a confrontar os eventos históricos dolorosos. Em última análise, Eliade vê o cristianismo como única religião que pode salvar o homem do “Terror da história”.
Na visão de Eliade, o homem tradicional ou das sociedades arcaicas vê o tempo como uma repetição sem fim dos arquétipos mitológicos. Em contraste, o homem moderno abandou os arquétipos mitológicos e entrou no tempo linear e histórico, neste contexto, ao contrário de muitas outras religiões, o Cristianismo atribui valor ao tempo histórico. Assim, Eliade conclui, “O Cristianismo incontestavelmente prova ser a religião do “homem decaído”, do homem moderno que perdeu “o paraíso dos arquétipos e da repetição”.

Bibliografia e Referências
O Mito do Eterno Retorno, Edições 70, M. Eliade.