domingo, 27 de janeiro de 2013

Influências egípcias na Bíblia Hebraica

É geralmente aceito que várias partes dos texto da Bíblia Hebraica tiveram seus precedentes na primitiva era do Bronze das religiões e mitologias do antigo Oriente, especialmente na religião da Mesopotâmia, mas também há uma grande dívida dos escritos hebraicos para com a sabedoria egípcia. Por instância vale mencionar que as máximas morais do Livro dos Provérbios derivam diretamente das Instruções de Amenemope. As instruções de Amenemope (também conhecidas como Sabedoria de Amenemope) são uma obra literária composta no antigo Egito, provavelmente durante o período do Império Novo, cerca de 1 3000 ou 1075 anos antes de Cristo. Estas instruções contém 30 capítulos de conselhos para uma vida virtuosa e plena, e teriam sido escritas pelo escriba Amenemope, filho de Kanakht, como um legado para o seu filho. Essa é uma obra que é característica do período da piedade pessoal, e reflete as qualidades internas, atitudes e comportamento que são requeridos para uma vida feliz em face às dificuldades sociais e econômicas crescentes naquele período. As Instruções de Amenemope são amplamente aceitas como uma das grandes obras de sabedoria do antigo oriente, e são de particular interesse por eruditos modernos por causa de sua relação direta com o livro bíblico dos Provérbios.
Papiro contendo as Instruções de Amenemope



A religião do antigo reino de Judá é um amálgama das tradições locais cananitas. Iahweh é um deus de origem não canaanita, Elohim era um grupo de deidades da religião de Ugarit, Jerusalém era em sua origem uma cidade jebusita, sob a tutelaridade da deidade Tsedek. Estas tradições canaanitas que deram origem ao surgimento da antiga religião israelida e do primitivo judaísmo eram, por sua vez, influenciadas pelas tradições mesopotâmicas e possivelmente pelas tradições egípcias também, e ambas eram mais antigas. 

Embora hajam muita evidências da influência da sabedoria egipcia sobre vários trechos da bíblia, o consenso entre os estudiosos e eruditos modernos é que houve pouca ou nenhuma influência direta da antiga religião egípcia no Judaísmo primitivo. A teoria de Sigmund Freud, que afirma que a monolatria de Israel foi derivada do Atonismo (Atonismo, também conhecido como a "heresia de Amarna", que é a primeira religião monoteísta (ou henoteísta), conhecido na história), tal como exposta na obra Moisés e o Monoteísmo de 1939, tem pouco apoio dos escolásticos e biblicistas modernos.

Referências bibliográficas:

Moses the Egyptian: the memory of Egypt in western monotheism, J. Assmann.
Of God and gods: Egypt, Israel, and the rise of monotheism , J. Assmann.
A Legacy of Wisdom: the Egyptian Contribution to the Wisdom of Israel, G. E. Bryce
Egypt, Canaan, and Israel in Ancient Times, D. B. Redford

sábado, 19 de janeiro de 2013

A Monolatria no Antigo Israel

Monolatria é o reconhecimento da existência de muitos deuses, mas com a adoração consistente de apenas uma divindade. A Monolatria se distingue do Monoteísmo, que assegura a existência de apenas um deus, e também se distingue do Henoteísmo, que é um sistema religioso no qual o devoto adora apenas um deus, sem negar que os outros possam adorar diferentes deuses com a mesma validade.

Muitos estudiosos da religião afirmam que no antigo Israel havia uma prática de Monolatria. São vários os trechos do Antigo Testamento onde se vê claramente que os antigos judeus reconheciam a existência de outras divindades. O primeiro mandamento do decálogo (“Não terás outros deuses diante de mim”) só tem sentido quando se admite a existência de outros deuses. 

A maior alegação que pode ser feita sobre Moisés é que ele era um monolátra, ao invés de um monoteísta. O Monoteísmo absoluto surgiu a partir da Monolatria em Israel, e assumiu o lugar desta quando aqueles que tinham estado originalmente no panteão dos deuses foram rebaixados ao status de anjos ou demônios. 

A exclusividade da relação entre Iahweh e Israel é um elemento importante na antiga tradição israelita. Contudo não é necessário atribuir à formulação do mandamento “Não terás outros deuses diante de mim” como sendo um estágio primitivo da tradição, e nem é vantajoso interpretar o mandamento como sendo uma manifestação de monoteísmo. O primeiro mandamento do Decálogo tecnicamente ordena a Monolatria, mais isso só pode ser compreendido dentro de um sistema religioso henoteísta. 

O código deuteronômico impõe, portanto, ao menos uma estrita monolatria. 

No Antigo Oriente Médio a existência de seres divinos era universalmente aceita sem questionamentos. E os pesquisadores e historiadores das religiões são unânimes em afirmar que no antigo Israel não existe clara negação da existência de outros deuses além de Iahweh antes do Deutêro-Isaías (o segundo escritor do livro de Isaías), no século 6 antes de Cristo. A questão não era saber se existia um elohim apenas, e sim se havia um elohim como Iahweh. 

Em várias passagens da Torá (Pentateuco) são mostradas evidências de Monolatria. Em geral são referencias à outros deuses, como os “deuses dos egípcios” no livro do Exodo, capítulo 12, versículo 12. Aos egípcios também eram atribuídos poderes que sugerem a existência dos seus deuses. Em Êxodo capitulo 7, versículos 11-13, aos Aarão transformar seu bastão em serpente, os mágicos do Faraó fazem o mesmo. 

No canto da vitória entoado depois da passagem do mar, Moisés exclama: “Quem é igual a ti Iahweh, entre os deuses?” Êxodo 15, 11.

Existe uma passagem do livro de Salmos capitulo 85, versículo 8 que também confirma a monolatria hebraica: Não há entre os deuses um que se vos compare, Senhor; não existe obra semelhante à vossa. Contudo, isso não parece significar que os outros deuses merecessem esse nome, no sentido que não tivessem poder real ou propriedade, e o profeta tardio Jeremias confirma que não foram estes deuses que criaram a Terra, e que irão perecer.

Agora, pois, se obedecerdes à minha voz, e guardardes minha aliança, sereis o meu povo particular entre todos os povos. Toda a terra é minha. Êxodo, cap. 19, vers. 5 

(Dir-lhes-eis, portanto: os deuses que não fizeram o céu e a terra desaparecerão da terra e de sob os céus.) Jeremias cap. 10, vers. 11.

Referências Bibliográficas

Yahweh and the Gods and Goddesses of Canaan, J. Day
No Other Gods Emergent Monotheism in Israel, R. K. Gnuse
História da Religião de Israel; G. Fohrer, Ed. Paulus