segunda-feira, 12 de outubro de 2015

A controvérsia do Massacre dos Inocentes

O Massacre dos Inocentes não é mencionado além do Evangelho de Mateus 2:16 e em nenhum dos escritos cristãos posteriores provavelmente baseados neste evangelho. O historiador judaico-romano Josefo, que viveu no I século da nossa era, não menciona isso em seu livro Antiguidades dos Judeus (c. 94 d.C.). Desde que todas as evidências canônicas dos eventos ocorridos são encontradas apenas no Evangelho de Mateus, os estudiosos do Novo Testamento como Daniel J. Harrington tem dito que a historicidade do evento é “uma questão aberta que provavelmente nunca será definitivamente decidida”. Muitos biógrafos recentes de Herodes negam que o evento tenha ocorrido.

Todo ano, na tradição judaica, o Sêder de Pessach relembra a morte dos primogênitos no Egito. Durante a contagem do Ômer, as mortes dos estudantes de Rabbi Akiva são lembradas na tradição judaica. Assim, tragédias envolvendo mortes massivas, tanto de grandes ou menores magnitudes, e antes e depois, as historias dos evangelhos são lembradas pela tradição judaica. Todavia, não existe nenhum feriado referente, dia de jejum ou outra menção de Herodes ordenando as mortes das crianças judaicas na observância judaica. Os judeus, que o evangelho alega terem tido suas crianças mortas por Herodes, se silenciam sobre este evento.

Entre os historiadores que duvidam da historicidade do massacre, Geza Vermes e E. P. Sanders, consideram a história como a parte de uma hagiografia criativa. Muitos estudiosos argumental que a historia é um dispositivo apologético ou um cumprimento forjado de uma profecia, enquanto outros apontam para o silêncio de Josefo, que registrou muitos exemplos do uso da violência de Herodes para proteger seu poder, incluindo o assassinato de seus próprios filhos. Robert Eiseman argumenta que a história pode ter suas origens no assassinato dos filhos de Herodes, um ato que produziu uma profunda impressão na época. David reconhece que o episódio “contém nada que seja historicamente impossível”, mas adiciona que o interesse real de Mateus é uma reflexão teológica sobre o tema do cumprimento do Antigo Testamento. Stephen Harris e Raymond Brown similarmente argumentam que o propósito de Mateus é apresentar Jesus como o Messias, e o Massacre dos Inocentes como o cumprimento das passagens em Oséias (referindo-se ao Exodo), e Jeremias (referindo-se ao exílio babilônico). Brown também vê a história como modelada na narrativa do livro de Êxodo do nascimento de Jesus e a décima praga, que o envolveu o assassinato dos primogênitos hebrews por Faraó (Exodo 11:5). Brown e outros argumentam que, baseados na população estimada de Belém de 1000 habitantes na época, o maior número de crianças que poderia ter sido assassinadas teria sido vinte, e R. T. France, abordando a ausência da historia nas Antiguidades dos Judeus, argumenta que o “assassinato de poucas crianças em uma pequena vila não está uma escala para se encaixar o maior número de assassinatos espetaculares registrados por Josefo”.