quinta-feira, 11 de julho de 2013

A ascenção do Protestantismo e a situação da mulher no Cristianismo

Apesar de terem, tradicionalmente, reforçado os valores da sociedade patriarcal, as Igrejas cristãs ofereceram, nas ordens, um refúgio a muitas mulheres, que assim tinham acesso à cultura e poderia usufruir certa independência, impossível em outras condições. Grande numero de pesquisadores, como Ida Magli, Rudolph Bell, Dagmar Lorentz, etc., observaram que as únicas possibilidades de independência oferecidas às mulheres pelas sociedades da Idade Média e do Renascimento eram a religião e a prostituição.

 Por conseguinte, a instituição das ordens monásticas femininas passou por uma reinterpretação muito positiva. Ao contrário, a dissolução das ordens femininas e a obrigatoriedade do casamento pelo luteranismo, no século XVI, são hoje consideradas responsáveis pela dicotomia degradante que existe ainda em certas sociedades entre mulheres casadas e não casadas.  Na Alemanha, quando das grandes perseguições contra as feiticeiras, e mesmo muito depois, o celibato feminino era alvo de uma desconfiança que podia transformar-se facilmente em repressão e que não atingia o celibato masculino.  

Como mostrou Prudence Allen, é o triunfo do aristotelismo no século XIII que generaliza a difamação cristã da mulher. Isso porque Aristóteles é o pai de uma teoria que terá uma das últimas variantes na versão freudiana da "privação do pênis": a mulher é um homem incompleto, defeituoso, na medida em que sua semente não contribui para a geração de um novo ser. Essa teoria, combinada com preconceitos comuns e infundados, como o da insaciável sexualidade feminina que leva o homem à ruína, ou o da "irracionalidade" da mulher, ambos justificando suas relações privilegiadas com o diabo, levaram à perseguição furiosa da feminilidade, iniciada na Alemanha pela bula papal Summis desiderantes affectibus (1494) e pelo Malleus maleficarum (1496) dos inquisitores Institoris e Sprenger, e prosseguida um século depois com a caça às bruxas, mais intensa, como observa J. B. Russel, nos territórios marcados pelo protestantismo.


Dicionário das Religiões, M. Eliade & I. P. Couliano, Ed. Martins Fontes, verbete Cristianismo, p. 127

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