sexta-feira, 28 de junho de 2013

História da Formação do Novo Testamento: A Cronologia dos Documentos

A CRONOLOGIA DOS DOCUMENTOS

                De inicio, os cristãos acreditavam que Jesus voltaria a qualquer momento, daí não terem se preocupado em registrar logo, por escrito, os fatos relativos, à vida do mestre e à de seus discípulos. Só mais tarde sentiram essa necessidade.

                E é justamente sobre a volta do Cristo que trata um dos mais antigos textos do "Novo Testamento": A segunda epístola de Paulo aos Tessalonicenses. Nela, Paulo esclarece que o regresso de Jesus à Terra está próximo, é certo, mas não propriamente iminente (II Ts II,  s).

                A primeira e a segunda epístolas de Paulo aos tessalonicenses seriam os mais antigos documentos do "Novo  Testamento". Teriam sido escritas de Corinto em 51/52, por ocasião da segunda viagem missionária de Paulo. Devemos observar, contudo, que hoje em dia tem sido posta em dúvida a autenticidade da segunda epístola aos tessalonicenses, considerando-se legítima apenas a primeira. (1) Por sua vez, a carta aos gálatas teia sido escrita em Éfeso, entre os anos de 54 e 57, durante a terceira viagem missionária de Paulo. A primeira carta aos coríntios foi escrita ainda em Éfeso, nos primeiros meses de 57, enquanto a segunda foi escrita da Macedônia no verão ou outono do mesmo ano. A carta aos romanos foi escrita de Corinto na primavera de 58. As epístolas aos efésios, aos filipenses, aos colossenses e à Filêmon teriam sido escritas entre 62 e 63, durante o cativeiro romano - daí serem apelidadas "epístolas do cativeiro". (2)

                Dúvidas também tem sido postas quanto à autenticidade das epístolas aos efésios e colossenses, mas as circunstâncias em que foi escrita a carta aos filipenses podem ser reconstituídas: tendo os cristãos de Filipos recebido notícia do cativeiro de Paulo em Roma, enviaram-lhe Epafrodito (que alguns pensam ter sido "bispo" de Filipos) para visitá-lo, levando consigo não apenas o consolo e a solidariedade dos cristãos, mas também um auxílio material. Ao voltar da visita, Epafrodito levou a Filipos a carta que Paulo escreveu aos cristãos da cidade, onde, inclusive, ele agradece o auxílio recebido. (Fl IV, 18s). A epístola a Filêmon, por sua vez, teria sido escrita por Paulo a um rico cristão de Éfeso (ou de Colossos, não há certeza a esse respeito). Mais um bilhete do que uma carta, sua finalidade é interceder em favor de Onésimo, escravo que fugira de Filêmon, seu senhor, e que Paulo convertera na prisão.

                Quanto às chamadas "epistolas pastorais", isto é, aquelas que Paulo teria escrito a Timóteo (são duas) e a Tito (uma), elas parecem ter sido escritas fora do quadro oferecido pela narração dos "Atos dos Apóstolos" - que permitira, antes, obter indícios para a datação das outras epístolas.

                A segunda carta a Timóteo, particularmente, chama a atenção por descrever um quadro em que Paulo parece pressentir a proximidade de seu martírio (II Tm IV, 6), o que nos permitira supor ter sido ela a última escrita pelo apóstolo - caso pudéssemos provar, claro, que foi realmente Paulo o seu autor.

                Na verdade, até hoje não foi possível definir se Paulo morreu em 64 ou 67, ou mesmo provar que o apóstolo foi realmente martirizado em Roma, como afirma a tradição. Como o próprio destino seguido por Paulo depois do ano de 63 (quando termina a narração dos "Atos dos Apóstolos") é motivo de dúvida, as datas e a autoria dessas "pastorais" também o são. Atualmente, a grande maioria dos pesquisadores admite que essas epístolas não foram escritas por Paulo, por isso, elas são chamadas de epístolas "pseudopaulinas" (isto é, falsamente atribuídas a Paulo), ou, ainda, "deuteropaulinas" (ao pé da letra, "secundariamente paulinas"). O pesquisador Alfred Läpple chega afirmar que elas só foram escritas após a morte de Paulo, lá pelo ano 100 da era cristã. (3)

                Elaine Pagels, professora de religião da Universidade de Princeton, por sua vez, afirma que as chamadas epístolas "deuteropaulinas" foram escritas por admiradores e seguidores do apóstolo: "Vários destes admiradores anônimos de Paulo, uma ou duas gerações após a sua morte, falsificaram cartas cheias de detalhes pessoais sobre sua vida, e saudações aos seus amigos, na esperança de fazê-las parecer autênticas. (...) Virtualmente todos os estudiosos reconhecem que Paulo não escreveu I ou II Timóteo ou Tito - cartas num estilo diferente e refletindo situações e pontos de vista bem diversos dos que vemos nas cartas do apóstolo". (4) Pagels acrescenta que quase todos os estudiosos incluem também entre as epístolas "deuteropaulinas" as que supostamente teriam sido escritas por Paulo aos efésios, aos colossenses e a segunda aos tessalonicenses. (5)

                Concluindo: das treze cartas atribuídas a Paulo (incluindo aquela escrita aos hebreus), somente oito podem ser consideradas legítimas: as que foram escritas aos romanos, a primeira e a segunda escritas aos coríntios, aos gálatas, aos filipenses, a primeira aos tessalonicenses e a Filêmon.

                Danillo Nunes, baseando-se em J. Moffat, acrescenta a observação de que a segunda epístola aos coríntios, na verdade, seria um mosaico de fragmentos de várias epístolas e que o capítulo XVI da epístola aos romanos deveria ser, originalmente, independente. (6)

                Acredita-se que Paulo tenha escrito outras cartas, que se perderam. Fala-se, principalmente, numa epístola que ele teria enviado aos cristãos de Laodicéia. (7)

                Em seguida, vieram os evangelhos. Aceita-se, hoje em dia, que eles foram escritos após a tomada de Jerusalém pelos romanos, no ano 70. Um bom indício estaria no texto de Mateus (XXIII, 35), onde se faz referência ao assassinato de Zacarias, filho de Baraquias, "morto entre o templo e o altar". Ora, trata-se, na verdade, de um fato ocorrido muito depois da crucificação de Jesus - em 67 ou 68 da era cristã, de acordo com o historiador judeu Flávio Josefo (c. 37 - c. 100), em sua obra "As Guerras Judaicas", livro IV, capítulo XIX. (8)

                Mesmo historiadores católicos como Alberto Antoniazzi e Henrique Cristianismo, professores de História do Cristianismo da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, acreditam que os evangelhos sinóticos, isto é, aqueles atribuídos a Mateus, Marcos e Lucas, foram redigidos entre 70 e 80 d.C., aproximadamente. (9) Primeiro surgiu o de Marcos, entre 70 e 75, seguido pelo de Mateus e Lucas (c. 80 d.C.). Os "Atos dos Apóstolos" podem ter sido escritos pela mesma época (10) ou no começo dos anos 90. (11)

                Como os leitores já devem ter percebido, não há condição de se estabelecer para estes escritos uma cronologia tão precisa quanto as das cartas de Paulo. Alfred Läpple sugere para os outros textos do "Novo Testamento" as seguintes datas: primeira e segunda epístolas de Pedro: entre 70 e 80 d.C.; carta aos Hebreus: ano 80, aproximadamente; as epístolas de Tiago e Judas, entre 80 e 90; os escritos de João, entre 90 e 100. (12) Todas estas datas são, evidentemente, bastante aproximadas.

                Além desses documentos canônicos, não podemos nos esquecer de outros antigos textos cristãos que parecem ter feito sucesso nos primeiros tempos do cristianismo. O "Evangelho de Tomé", por exemplo, baseia-se em tradições orais que circulavam de boca em boca já entre os anos 50 e 100. Por volta do ano 140 elas foram coligidas no texto hoje conhecido como "Evangelho de Tomé", ao que parece, em grego. O texto original mais antigo de que hoje dispomos data de 350/400 e está redigido em copta, dialeto egípcio. Do texto grego, mais antigo, restaram apenas fragmentos. (13)

                E citemos ainda: o "Didaqué", espécie de prontuário de instrução religiosa,surgido entre 69 e 90 d.. e tão antigo, portanto, quanto os evangelhos; a "Epístola de Clemente Romano aos Coríntios", surgida no ano de 96; a "Epístola de Barnabé", entre 96 e 98; o "Livro do Pastor", de Hermas, escrito entre 140 e 154; e a "Carta a Diogneto", de 180 e 190. Havia outros, mas esses são os mais valorizados por historiadores e teólogos. (4) León Denis observa,por exemplo, que o "Livro do Pastor" era lido nas igrejas, como nós lemos atualmente os evangelhos e as epístolas, até o século V. São Clemente de Alexandria (c. 160 - c. 215) e Orígenes (c. 185 - c. 254) a ele se referem com respeito. Figura, também, no mais antigo catálogo dos livros canônicos recebidos pela Igreja Romana (O "Cânone Muratoriano", datado de 180 d.C.) e foi publicado por Caio em 220. (15)

                O mais antigo espécie de um texto do "Novo Testamento" não passa de fragmento: trata-se de um pedaço de papiro contendo, de um lado, fragmentos dos versículos 31-33 do capítulo XVIII do "Evangelho de João", e do outro, palavras do versículos 37 e 38. Data de 125 d.C. e foi achado no Egito em 1920. Recebeu o código P⁵² , e encontra-se atualmente na John Rylands Library, de Manchester. Papiros contendo textos neotestamentários e em melhores condições também foram achados no Egito, datando, os mais antigos, em sua maioria, de cerca de 200 a 220 d.C. - todos em grego koiné, é claro. (16)

Notas

01. Pagels, Elaine - "Adão, Eva e a Serpente". Rio de Janeiro, Rocco, 1992, p. 52.
02. Läpple, Alfred - Obra citada, p. 193.
03. Idem, Ibidem, pp. 124 e 193
04. Pagels, Elaine - "Adão, Eva e a Serpente". Rio de Janeiro, pp. 51 e 52.
05. Idem, Ibidem.
06. Moffat, J. - "Introdocution to the Literature of the New Testament". Edinburgh, 1918-1933, pp. 126 a 128, 134 a 139, 159 a 161. Apud Nunes, Danillo - Obra citada, p. 122 - n. 24
07. Schiavo, José - "Dicionário dos Personagens Bíblicos". Rio de Janeiro, Tecnoprint, s/d., p. 178 (verbete "Laodiceus").
08. Apud Denis, Léon - "Cristianismo e Espiritismo". 8ª edição, Brasília, FEB, 1987, p. 269.
09. Antoniazzi, Alberto e Cristiano, Henrique - Obra citada, p. 70.
10. Läpple, Alfred - Obra citada, p. 124
11. Nunes, Danillo - Obra citada, p. 100
12. Läpple, Alfred - Obra citada, p. 124.
13. Pagels, Elaine - "Os Evangelhos Gnóstico". pp. 13 a 15.
14. Antoniazzi, Alberto e Cristianismo, Henrique - Obra citada, pp. 70 e 71
15. Denis, Léon - Obra citada, p. 61 - n. 40.
16. Läpple, Alfred - Obra citada, pp. 127 a 130.


Um comentário:

  1. engracado existem livros como o de apocalipse que nao fez parte das escrituras exemplo traducoes de lutero descartava o livro de revelacoes como sendo nao verdadeiro, o mais engracado e que em nenhum site consta as datas em que certos livros que nao faziam parte do Nt nao sao eencontradas.

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