As epístolas
paulinas foram na sua maioria escritas para igrejas que Paulo visitou e o
apóstolo era um grande viajante. Ele passou por Chipre, por toda a Ásia Menor, pela Grécia, Creta e Roma. Elas estão repletas de exposições sobre o que os
cristãos deveriam acreditar e como deveriam viver, ao passo que ele não relata
ao destinatário (e aos leitores modernos) muito sobre a vida de Jesus. Suas mais
explícitas referências são passagens sobre a Última Ceia, a crucificação e ressurreição.
Nas epístolas paulinas as referências aos
ensinamentos de Jesus são também esparsos, levantando a questão, ainda em
disputa, sobre o quão consistente é seu relato sobre a fé com o que está nos
quatro evangelhos
canônicos, os Atos e a Epístola de
Tiago. O ponto de vista de que o Cristo de Paulo é diferente do
Jesus histórico foi proposta pelo teólogo Adolf Harnack. De toda maneira, ele nos dá
o primeiro relato escrito do que é ser cristão e da espiritualidade cristã.
Das catorze cartas
atribuídas a Paulo e incluídas no cânone
do Novo Testamento, há pouca ou nenhuma disputa de que Paulo tenha
escrito pelo menos sete:
A Epístola aos
Hebreus, que foi atribuída a ele ainda na antiguidade, já era
questionada na época, e atualmente não é considerada como tendo sido escrita
por ele pela maior parte dos especialistas. A autoria das demais epístolas tem
variados graus de disputa a respeito da autoria.
A autenticidade da Epístola
aos Colossenses tem
sido questionada por
conter uma descrição de Jesus não encontrada em nenhuma outra de Paulo,
descrevendo-o como a "imagem do Deus invisível", uma cristologia que
só tem paralelo no Evangelho de
João. Evidências internas demonstram uma conexão próxima com a Epístola aos
Efésios,
que é muito similar a Colossenses (dos 155 versículos, 78 são idênticos), mas quase sem referências
pessoais. O estilo de Colossenses é único entre as epístolas paulinas, não se
encontrando a ênfase na cruz que se vê nas demais e nem referência à Segunda
vinda de Cristo, além de uma exaltação do casamento que contrasta com
a encontrada em 1 Coríntios 7:8-9. Finalmente, segundo R.E. Brown, ela exalta
a Igreja de uma forma que só se tornaria comum numa segunda geração de
cristãos, "construída
sobre a fundação deixada pelos apóstolos e profetas",
já passada.
Os defensores da autoria paulina argumentam que ela foi escrita para ser lida
uma quantidade grande de igrejas (daí a similaridade com Efésios) e marca um
estágio final do desenvolvimento de Paulo de Tarso. Deve ser lembrado também
que a porção moral da epístola, que é composta dos dois últimos capítulos, tem
uma afinidade muito maior com os trechos equivalentes em outras epístolas
enquanto que o restante casa perfeitamente com os detalhes que conhecemos sobre
a vida de Paulo, dando-nos ainda mais pistas sobre ela. Ela confirma, por exemplo,
que ele estava preso quando a escreveu.
As epístolas
pastorais, 1 Timóteo, 2 Timóteo e Epístola a Tito também já tiveram
a autoria questionada. As três principais razões são:
·
As diferenças em vocabulário, estilo e teologia em
relação às demais obras de Paulo. Os defensores da autenticidade afirma que
elas foram provavelmente escritas em nome do apóstolo sob sua autoridade por
algum de seus discípulos, a quem ele teria explicado claramente o que deveria
ser escrito, ou a quem ele havia passado um sumário por escrito dos pontos a
serem desenvolvidos, e que, uma vez escritas, Paulo as teria lido, aprovado e assinado.
·
A dificuldade de alinhá-las com a biografia
conhecida de Paulo. Estas epístolas, assim como as dirigidas aos Colossenses e
aos Efésios, foram escritas no período em que Paulo estava preso, mas ao
contrário delas, afirmam que o apóstolo foi solto e viajou depois disso. Os
defensores argumentam que Paulo foi preso pela primeira vez não por algum crime
contra os romanos, mas para salvá-lo da prisão. Em Filêmom, ele parece ter a
esperança de ser libertado logo, e haveria bastante tempo para ele ter visitado
Creta e escrever as epístolas a Timóteo antes de sua segunda e final prisão pelos romanos.
·
Finalmente, foram levantadas diversas objeções
sobre o estado avançado da Igreja que a epístola deixa transparecer. Novamente,
os defensores alegam que a epístola usa termos como "bispo",
"diácono" e "padres" como sinônimos para indicar os que
foram legados pelos apóstolos com a missão evangélica e não no sentido
organizacional que termo viria a adquirir nos anos seguintes. Alegam também que
se estas epístolas fossem mesmo, como alegam os críticos, uma defesa da sucessão
apostólica pelos
bispos, elas já deveriam ter sido atacadas como fraudes na antiguidade,
argumenta que não encontra nenhum suporte evidencial.
O principal
argumento contra a autoria de Paulo da Segunda Epístola aos Tessalonicenses é que a sua escatologia parece
contradizer a da Primeira Epístola aos Tessalonicenses. Enquanto a primeira epístola
parece indicar que a parousia é
iminente, na segunda ele a coloca num futuro desconhecido, o que implicaria num
"erro" do apóstolo em uma epístola que, segundo os crentes, teve
inspiração divina. A defesa principal é que a frase mais polêmica, «Então nós que
estivermos vivos, e formos deixados, seremos arrebatados em nuvens...» (1 Tessalonicenses 4:17) teve tradução
problemática já na Vulgata (em latim: Nos, qui vivimus, qui residui sumus),
mas que o texto original emgrego não
deixa dúvidas, hemeis
oi zontes oi paraleipomenoi, ama syn autois arpagesometha,
que seria melhor traduzido como "Nós, se estivermos vivos - se deixados
para trás - [na terra], seremos arrebatados..." .
Referencias
bibliográficas sobre o assunto:
Ehrman, Bart D.. The New Testament: A Historical Introduction
to the Early Christian Writings(em inglês). New York: Oxford, 2004.
MacDonald, Margaret Y. Sacra Pagina: Colossians and Ephesians (em inglês). [S.l.]: Liturgical Press, 2000
Brown, R. E. The Churches the
Apostles left behind (em inglês). [S.l.: s.n.]. p. 48.
Barrett, C. K. The Pastoral Epistles (em
inglês). [S.l.: s.n.]. 4 e seguintes p.
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