sexta-feira, 14 de junho de 2013

As Epístolas Dêutero-Paulinas ou Pseudo-Paulinas.

As epístolas paulinas foram na sua maioria escritas para igrejas que Paulo visitou e o apóstolo era um grande viajante. Ele passou por Chipre, por toda a Ásia Menor, pela Grécia, Creta e Roma. Elas estão repletas de exposições sobre o que os cristãos deveriam acreditar e como deveriam viver, ao passo que ele não relata ao destinatário (e aos leitores modernos) muito sobre a vida de Jesus. Suas mais explícitas referências são passagens sobre a Última Ceia, a crucificação e ressurreição.
 Nas epístolas paulinas as referências aos ensinamentos de Jesus são também esparsos, levantando a questão, ainda em disputa, sobre o quão consistente é seu relato sobre a fé com o que está nos quatro evangelhos canônicos, os Atos e a Epístola de Tiago. O ponto de vista de que o Cristo de Paulo é diferente do Jesus histórico foi proposta pelo teólogo Adolf Harnack. De toda maneira, ele nos dá o primeiro relato escrito do que é ser cristão e da espiritualidade cristã.
Das catorze cartas atribuídas a Paulo e incluídas no cânone do Novo Testamento, há pouca ou nenhuma disputa de que Paulo tenha escrito pelo menos sete:
·         Epístola aos Romanos
·         Epístola aos Gálatas
·         Epístola aos Filipenses
·         Epístola a Filêmon
A Epístola aos Hebreus, que foi atribuída a ele ainda na antiguidade, já era questionada na época, e atualmente não é considerada como tendo sido escrita por ele pela maior parte dos especialistas. A autoria das demais epístolas tem variados graus de disputa a respeito da autoria.
A autenticidade da Epístola aos Colossenses tem sido questionada  por conter uma descrição de Jesus não encontrada em nenhuma outra de Paulo, descrevendo-o como a "imagem do Deus invisível", uma cristologia que só tem paralelo no Evangelho de João. Evidências internas demonstram uma conexão próxima com a Epístola aos Efésios, que é muito similar a Colossenses (dos 155 versículos, 78 são idênticos), mas quase sem referências pessoais. O estilo de Colossenses é único entre as epístolas paulinas, não se encontrando a ênfase na cruz que se vê nas demais e nem referência à Segunda vinda de Cristo, além de uma exaltação do casamento que contrasta com a encontrada em 1 Coríntios 7:8-9. Finalmente, segundo R.E. Brown, ela exalta a Igreja de uma forma que só se tornaria comum numa segunda geração de cristãos, "construída sobre a fundação deixada pelos apóstolos e profetas", já passada. Os defensores da autoria paulina argumentam que ela foi escrita para ser lida uma quantidade grande de igrejas (daí a similaridade com Efésios) e marca um estágio final do desenvolvimento de Paulo de Tarso. Deve ser lembrado também que a porção moral da epístola, que é composta dos dois últimos capítulos, tem uma afinidade muito maior com os trechos equivalentes em outras epístolas enquanto que o restante casa perfeitamente com os detalhes que conhecemos sobre a vida de Paulo, dando-nos ainda mais pistas sobre ela. Ela confirma, por exemplo, que ele estava preso quando a escreveu.
As epístolas pastorais, 1 Timóteo, 2 Timóteo e Epístola a Tito também já tiveram a autoria questionada. As três principais razões são:
·         As diferenças em vocabulário, estilo e teologia em relação às demais obras de Paulo. Os defensores da autenticidade afirma que elas foram provavelmente escritas em nome do apóstolo sob sua autoridade por algum de seus discípulos, a quem ele teria explicado claramente o que deveria ser escrito, ou a quem ele havia passado um sumário por escrito dos pontos a serem desenvolvidos, e que, uma vez escritas, Paulo as teria lido, aprovado e assinado.
·         A dificuldade de alinhá-las com a biografia conhecida de Paulo. Estas epístolas, assim como as dirigidas aos Colossenses e aos Efésios, foram escritas no período em que Paulo estava preso, mas ao contrário delas, afirmam que o apóstolo foi solto e viajou depois disso. Os defensores argumentam que Paulo foi preso pela primeira vez não por algum crime contra os romanos, mas para salvá-lo da prisão. Em Filêmom, ele parece ter a esperança de ser libertado logo, e haveria bastante tempo para ele ter visitado Creta e escrever as epístolas a Timóteo antes de sua segunda  e final prisão pelos romanos.
·         Finalmente, foram levantadas diversas objeções sobre o estado avançado da Igreja que a epístola deixa transparecer. Novamente, os defensores alegam que a epístola usa termos como "bispo", "diácono" e "padres" como sinônimos para indicar os que foram legados pelos apóstolos com a missão evangélica e não no sentido organizacional que termo viria a adquirir nos anos seguintes. Alegam também que se estas epístolas fossem mesmo, como alegam os críticos, uma defesa da sucessão apostólica pelos bispos, elas já deveriam ter sido atacadas como fraudes na antiguidade, argumenta que não encontra nenhum suporte evidencial.
O principal argumento contra a autoria de Paulo da Segunda Epístola aos Tessalonicenses é que a sua escatologia parece contradizer a da Primeira Epístola aos Tessalonicenses. Enquanto a primeira epístola parece indicar que a parousia é iminente, na segunda ele a coloca num futuro desconhecido, o que implicaria num "erro" do apóstolo em uma epístola que, segundo os crentes, teve inspiração divina. A defesa principal é que a frase mais polêmica, «Então nós que estivermos vivos, e formos deixados, seremos arrebatados em nuvens...» (1 Tessalonicenses 4:17) teve tradução problemática já na Vulgata (em latim: Nos, qui vivimus, qui residui sumus), mas que o texto original emgrego não deixa dúvidas, hemeis oi zontes oi paraleipomenoi, ama syn autois arpagesometha, que seria melhor traduzido como "Nós, se estivermos vivos - se deixados para trás - [na terra], seremos arrebatados..." .

Referencias bibliográficas sobre o assunto:
Ehrman, Bart D.. The New Testament: A Historical Introduction to the Early Christian Writings(em inglês). New York: Oxford, 2004.
MacDonald, Margaret Y. Sacra Pagina: Colossians and Ephesians (em inglês). [S.l.]: Liturgical Press, 2000
Brown, R. E. The Churches the Apostles left behind (em inglês). [S.l.: s.n.]. p. 48.
Barrett, C. K. The Pastoral Epistles (em inglês). [S.l.: s.n.]. 4 e seguintes p.


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