sábado, 25 de maio de 2013

O Êxodo Bíblico é pura ficção?

De acordo com a tradição, o Êxodo e os outros quatro livros da Torá foram escritos por Moisés na segunda metade do 2º milênio a.C., entretanto estudiosos modernos divergem da autoria por Moisés. A Hipótese Documentária sustenta que a Torá foi composta por entrelaçamento de quatro narrativas originais, que originalmente eram separadas e completas em si, cada uma lidando com o mesmo material. Isso explicaria muitas das características intrigantes dos cinco livros, nomeadamente o aparecimento de vários nomes para Deus e incidentes duplicados, tais como as narrativas de duas criações da humanidade. Basicamente a Hipótese Documentária era então quatro documentos independentes (conhecidos como o Javista, o Eloísta, a fonte Sacerdotal e o Deuteronomista), e que foram compostos entre 900 a.C. e 550 a.C., e sendo redigidos (ou agrupados) em 450 a.C., possivelmente por Esdras.
A Edição Pastoral da Bíblia sustenta que os capítulos 25-31 e 35-40 foram acrescentados por sacerdotes após o exílio na Babilônia.
A Bíblia não cita o faraó do Êxodo por seu nome,e a data bíblica do Êxodo pode ser estimada por 1 Reis 6:1, em que se lê que Salomão começou a construir o Templo no quarto ano de seu reinado, 480 anos depois que os filhos de Israel saíram do Egito. A maioria dos estudiosos da Bíblia estima que o quarto ano do reinado de Salomão foi o ano 967 a.C. Logo a data do Êxodo teria sido 1447 a.C. (967 + 480), quando governava Tutmosis III, mas não há nenhum documento nem resto arqueológico egípcio que confirme este excepcional acontecimento.
A figura mais popularmente associada ao faraó do Êxodo é Ramsés II, embora não haja qualquer evidência arqueológica de que ele tenha tido de lidar com as Pragas do Egito ou qualquer coisa similar ou que tenha perseguido escravos hebreus fugindo do Egito. A estela de Ramsés II em Beth Shan menciona dois povos conquistados que vieram a lhe "prestar obediência" na cidade de Ramsés ou Pi-Ramsés mas não menciona nem a construção da cidade nem os israelitas ou Hapirus. Ainda, acredita-se que Pitom tenha sido construída no sétimo século a.C. 
Por outro lado outros estudiosos apontam o ano de 1250 a.C.
Há evidências arqueológicas que confirmem o Êxodo descrito na Bíblia? A resposta é Não.
Enquanto alguns arqueólogos deixem aberta a possibilidade de ter havido uma tribo semítica oriunda da escravidão no Egito e que uma figura como a de Moisés tenha realmente existido no século XIII a.C., se rejeita a possibilidade de que o Êxodo tenha acontecido conforme descrito na Bíblia.
 Mais de um século de pesquisa arqueológica não descobriu nada que pudesse comprovar os elementos narrativos do livro do Êxodo: os quatro séculos de estada no Egito, a fuga de bem mais de um milhão de israelitas do Delta ou os três meses de jornada através do deserto até o Sinai. 
Os registros egípcios não fazem qualquer menção aos fatos relatados no Êxodo, a região sul da península do Sinal não mostra traços de uma migração em massa como descrita no Êxodo e virtualmente todos os nomes mencionados, incluindo Goshen (a região do Egito os israelitas supostamente viveram), as cidades-armazém de Pitom e Rameses, o local onde teria acontecido a passagem pelo Mar Vermelho (ou Mar dos Juncos) e o próprio monte Sinai não puderam ser claramente identificados.
 Acadêmicos que defendem a historicidade do Êxodo concedem que o máximo que as evidências podem sugerir é que o relato é plausível.
Tem se tornado cada vez mais claro que a idade do ferro Israelense que os reinos de Judá e Israel tiveram suas origens em Canaã e não no Egito. A cultura dos assentamentos israelitas mais antigos é Canaanita, seus objetos de culto são os mesmos do deus canaanita El, o trabalho da cerâmica reflete as tradições canaanitas locais e o alfabeto usado é o canaanita antigo. Praticamente a única distinção entre as cidades israelitas das áreas canaanitas é a ausência de ossos de porco, embora se este aspecto pode ser usado como um marcador étnico ou é devido a outros fatores permanece assunto de disputa.

Fontes e Referências bibliográficas

Exodus and the Archaeological Reality, in Exodus: The Egyptian Evidence, James Weinstein , Ed. Ernest S. Frerichs and Leonard H. Lesko [1997], p.87
Directions in Pentateuchal Studies, Currents in Research: Biblical Studies volume 5 [1997], pp.43-65
Controversy and Convergence in Recent Studies of the Formation of the Pentateuch", Religious Studies Review volume 23 number 1, David M. Carr, [1997], pp.22-29 
Archaeology and the Religion of Israel, W. F. Albright  [1969], Doubleday/Anchor


Um comentário:

  1. É pertinente citar Carl Segan: "a ausência de evidência não é evidência de ausência". Talvez seja preciso anotar, no caso, alguns fatores relevantes: a) os egípcios normalmente omitiam derrotas em seus registros, sendo razoável que Tutmósis ou Ramsés, quem fosse, omitisse solenemente fatos que envolvessem derrota face a um povo escravizado; b) o trajeto do Delta do Nilo até o Sinai e, depois, até Canaan, era desértico e nele os hebreus não teriam se estabelecido senão improvisadamente, mediante tendas transportáveis, sendo, pois, difícil localizar um sítio que contivesse evidências de sua presença; c) dificilmente uma tradição tão sedimentada como o Êxodo poderia fundamentar-se em fatos totalmente falsos.
    Com base nesses pressupostos, fico tentado à hipótese de que um grupo de hebreus, de fato, estiveram sob o jugo egípcio, porém não tão numeroso quanto relatado no texto bíblico; que houve, de fato, um líder chamado Moisés (que provavelmente integrou a elite egípcia dado seu nome egípcio - Ramsés - Msés - Tutmósis - Msés) que, de algum modo, os libertou e transportou à Canaan; e por fim, que em Canaan já havia outro grupo de origem hebreia, o qual nunca se submetera à escravidão egípcia, e que recepcionou-os, fundindo-se em uma só comunidade. São apenas especulações, mas que penso mereçam um estudo mais elaborado.

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