Fontes e Origens do Pentateuco
Embora a tradição atribua a composição do livro de Gênesis à Moisés, os estudiosos bíblicos asseguram que, junto com os outros quatro livros restantes (perfazendo o que os judeus chamam de Torá e os estudiosos bíblicos chamam de Pentateuco) é "um trabalho composto, o produto de muitas mãos e períodos". Uma hipótese comum entre os estudiosos bíblicos hoje é de que a maior parte abrangente do Pentateuco foi composta amplamente nos séculos 7 ou 6 a.C. ( a fonte Javista), e que esta foi mais tarde expandida pela adição de várias narrativas e leis (a fonte Sacerdotal) em um trabalho que é muito similar ao existente hoje. As duas fontes aparecem em ordem reversa: Genesis 1:1–2:3 é Sacerdotal e Genesis 2:4–24 é Javista.
Quanto ao contexto histórico que conduziu a criação da narrativa em si, a teoria que tem ganhado interesse notável, embora ainda controversa, é a "Autorização Imperial Persa". Ela propõe que os persas, após sua conquista da Babilônia em 538 a.C., concordaram em garantir à Jerusalém uma ampla medida de autonomia local dentro do Império, mas exigiram das autoridades locais que produzissem um único código de leis aceito por toda a comunidade. Isso implica que existiam dois grupos poderosos na comunidade: as famílias sacerdotais que controlavam o Templo, e as famílias proprietárias de terras que se compunham pelos "anciãos", e estes dois grupos estavam em conflito por muitos motivos, e cada um tinha sua própria "história das origens", mas a promessa persa de uma maior autonomia local para todos deu um poderoso incentivo na cooperação na produção de um único texto.
Estrutura das Duas Narrativas
A narrativa da criação é feita de duas histórias, grosseiramente equivalente aos dois primeiros capítulos do Livro do Gênesis (Lembrando que não existem divisões de capítulos no texto hebraico original). A primeira narrativa (1:1 à 2:3) emprega uma estrutura repetitiva de fiat divino e realização, então a sentença: "E houve tarde e manhã, o ...ésimo dia" para cada um dos seis dias de criação. Em cada um dos três primeiros dias há um ato de separação: o primeiro dia a luz se separa da escuridão, o segundo dia as "águas superiores" das "águas inferiores" e no terceiro dia a terra do mar. Em cada um dos três dias seguintes estas separações ou divisões são povoadas: no quarto dia a escuridão e a luz são povoadas com o sol, a lua e as estrelas, no quinto dia os mares e céus são povoados com peixes e aves, e finalmente as criaturas terrestres e a humanidade povoam a terra..
As duas histórias são mais complementares do que sobrepostas, com a primeira (a história Sacerdotal) preocupada com o plano cósmico da criação, enquanto que a segunda (a história Javista) se focando no homem como cultivador do seu ambiente e como um agente moral. Existem paralelos significantes entre as duas histórias, mas também diferenças notáveis: a segunda narrativa, em contraste com o esquema organizado dos sete dias de Genesis 1, usa uma narrativa simples em estilo fluente que procede da formação de Deus do primeiro homem através do Jardim do Éden até a criação da primeira mulher e a instituição do casamento; em contraste com o Deus onipotente de Genesis 1,criando uma humanidade como deus, o Deus de Genesis 2 pode tanto falhar como ter sucesso; a humanidade que ele cria não é como deus, mas é punida por atos que a levariam a se tornar como deus (Genesis 3:1-24); e a ordem e o método de criação diferem entre si. Juntas, esta cominação de caracteres paralelos e perfis contrastantes apontam para diferentes origens dos materiais em Genesis 1:1–2:3 e 2:4b–3:23, muito embora eles tenham sido elegantemente combinados.
As narrativas primárias em cada capítulo são unidas por uma "ponte literária" em Genesis 2:4a: "Estas são as gerações dos céus e da terra quando eles foram criados". Isto ecoa a primeira linha de Genesis 1: "No Princípio Deus criou os céus e a terra", e é revertido na frase seguinte Genesis 2:4b: "... no dia em que o Senhor Deus fez a terra e os céus". Este verso é uma das dez frases de gerações(do hebraico תולדות tôledôt) usadas através do Genesis, que providenciam uma estrutura literária ao livro. Elas normalmente funcionam como cabeçalho ao texto que vem depois, mas a posição desta, a primeira das séries, tem sido assunto de muito debate.
As duas tabelas abaixo mostram as duas narrativas bíblicas da criação comparadas. Para tanto utilizei, como referência, a Bíblia de Jerusalém:
Referência Bibliográfica:
Embora a tradição atribua a composição do livro de Gênesis à Moisés, os estudiosos bíblicos asseguram que, junto com os outros quatro livros restantes (perfazendo o que os judeus chamam de Torá e os estudiosos bíblicos chamam de Pentateuco) é "um trabalho composto, o produto de muitas mãos e períodos". Uma hipótese comum entre os estudiosos bíblicos hoje é de que a maior parte abrangente do Pentateuco foi composta amplamente nos séculos 7 ou 6 a.C. ( a fonte Javista), e que esta foi mais tarde expandida pela adição de várias narrativas e leis (a fonte Sacerdotal) em um trabalho que é muito similar ao existente hoje. As duas fontes aparecem em ordem reversa: Genesis 1:1–2:3 é Sacerdotal e Genesis 2:4–24 é Javista.
Quanto ao contexto histórico que conduziu a criação da narrativa em si, a teoria que tem ganhado interesse notável, embora ainda controversa, é a "Autorização Imperial Persa". Ela propõe que os persas, após sua conquista da Babilônia em 538 a.C., concordaram em garantir à Jerusalém uma ampla medida de autonomia local dentro do Império, mas exigiram das autoridades locais que produzissem um único código de leis aceito por toda a comunidade. Isso implica que existiam dois grupos poderosos na comunidade: as famílias sacerdotais que controlavam o Templo, e as famílias proprietárias de terras que se compunham pelos "anciãos", e estes dois grupos estavam em conflito por muitos motivos, e cada um tinha sua própria "história das origens", mas a promessa persa de uma maior autonomia local para todos deu um poderoso incentivo na cooperação na produção de um único texto.
Estrutura das Duas Narrativas
A narrativa da criação é feita de duas histórias, grosseiramente equivalente aos dois primeiros capítulos do Livro do Gênesis (Lembrando que não existem divisões de capítulos no texto hebraico original). A primeira narrativa (1:1 à 2:3) emprega uma estrutura repetitiva de fiat divino e realização, então a sentença: "E houve tarde e manhã, o ...ésimo dia" para cada um dos seis dias de criação. Em cada um dos três primeiros dias há um ato de separação: o primeiro dia a luz se separa da escuridão, o segundo dia as "águas superiores" das "águas inferiores" e no terceiro dia a terra do mar. Em cada um dos três dias seguintes estas separações ou divisões são povoadas: no quarto dia a escuridão e a luz são povoadas com o sol, a lua e as estrelas, no quinto dia os mares e céus são povoados com peixes e aves, e finalmente as criaturas terrestres e a humanidade povoam a terra..
As duas histórias são mais complementares do que sobrepostas, com a primeira (a história Sacerdotal) preocupada com o plano cósmico da criação, enquanto que a segunda (a história Javista) se focando no homem como cultivador do seu ambiente e como um agente moral. Existem paralelos significantes entre as duas histórias, mas também diferenças notáveis: a segunda narrativa, em contraste com o esquema organizado dos sete dias de Genesis 1, usa uma narrativa simples em estilo fluente que procede da formação de Deus do primeiro homem através do Jardim do Éden até a criação da primeira mulher e a instituição do casamento; em contraste com o Deus onipotente de Genesis 1,criando uma humanidade como deus, o Deus de Genesis 2 pode tanto falhar como ter sucesso; a humanidade que ele cria não é como deus, mas é punida por atos que a levariam a se tornar como deus (Genesis 3:1-24); e a ordem e o método de criação diferem entre si. Juntas, esta cominação de caracteres paralelos e perfis contrastantes apontam para diferentes origens dos materiais em Genesis 1:1–2:3 e 2:4b–3:23, muito embora eles tenham sido elegantemente combinados.
As narrativas primárias em cada capítulo são unidas por uma "ponte literária" em Genesis 2:4a: "Estas são as gerações dos céus e da terra quando eles foram criados". Isto ecoa a primeira linha de Genesis 1: "No Princípio Deus criou os céus e a terra", e é revertido na frase seguinte Genesis 2:4b: "... no dia em que o Senhor Deus fez a terra e os céus". Este verso é uma das dez frases de gerações(do hebraico תולדות tôledôt) usadas através do Genesis, que providenciam uma estrutura literária ao livro. Elas normalmente funcionam como cabeçalho ao texto que vem depois, mas a posição desta, a primeira das séries, tem sido assunto de muito debate.
As duas tabelas abaixo mostram as duas narrativas bíblicas da criação comparadas. Para tanto utilizei, como referência, a Bíblia de Jerusalém:
Primeira Narrativa (Gênesis 1:1-2:3)
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Segunda Narrativa (Gênesis 2:4-25)
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Gênesis 1:25-27 (Humanos foram criados depois dos outros animais)
Deus (Elohim) fez as feras
segundo sua espécie, os animais domésticos segundo sua espécie e todos os
répteis do solo segundo sua espécie, e Deus (Elohim) viu que isso era bom. E
Deus (Elohim) disse: Façamos o homem à nossa imagem... Deus (Elohim) criou o
homem à sua imagem.
Gênesis 1:27 (O primeiro homem e a primeira mulher foram criados simultaneamente)
E Deus (Elohim) criou o homem à
sua imagem, à imagem de Deus (Elohim) ele o criou, homem e mulher ele os
criou.
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Gênesis 2: 18-19 (Humanos foram criados antes dos outros animais)
Iahweh Deus disse: Não é bom
que o homem esteja só. Vou fazer uma auxiliar que lhe corresponda. Iahweh
Deus modelou então, do solo, todas as feras selvagens e todas as aves do céu
e as conduziu ao homem para ver como ele as chamaria: cada qual devia levar o
nome que o homem lhe desse.
Gênesis 2: 18-22 (O homem foi criado primeiro, então os animais, e então a mulher foi criada da costela do homem) Então Iahweh Deus fez cair um torpor sobre o homem, e ele dormiu. Tomou uma de suas costelas e fez crescer carne em seu lugar. Depois, da costela que tirara do homem. Iahweh Deus modelou uma mulher e a trouxe ao homem. |
Referência Bibliográfica:
Boa noite Lucas, venho lendo seu blog com interesse a parabenizo seu trabalho, que se pauta pela precisão informativa e imparcialidade, o que é raro no que toca ao tema religião. Ao conferir o texto bíblico ora em questão, verifiquei uma particularidade interessante, a qual gostaria que você comentasse, se possível.
ResponderExcluirEm Gen. 1:26 Deus disse "Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança". Utilizou o plural, como se não estivesse sozinho, o que evidentemente contradiz a orientação monoteísta. Aventei três hipóteses possíveis para tanto: a) equívoco de tradução (como não sei hebraico, nem disponho do original, não há como confirmar esta hipótese); b) poderia ser resquício da fase anterior ao Javismo absoluto, em que se pressupõe a presença de uma consorte (sou particularmente propenso a esta tese, porque no versículo seguinte é ressaltado: "foi criado à sua imagem e semelhança (...) homem e mulher os criou)"; c)seria mera figura de linguagem na sua forma majestática (os reis sempre referiam seus atos no plural.
Obrigado pela atenção e espero que continue com seu magnífico trabalho. Um grande abraço.