Escopo
Os cristãos do segundo e terceiro
séculos mantiveram uma considerável extensão ampla de crenças. Embora algumas destas crenças possam soar
ridículas hoje, naquele tempo elas pareciam não apenas sensíveis mas
corretas. Alguns cristãos sustentavam
que haviam dois deuses, ou doze, ou trinta ou mais. Alguns cristãos alegavam
que Jesus não era realmente um ser humano, ou que ele não era realmente divino,
ou que ele era dois diferentes seres: um humano e um divino. Alguns cristãos
acreditavam que este mundo não era criado por um Deus Verdadeiro, mas por uma
deidade maligna para punição para as almas humanas, que tinham se tornado
aprisionadas aqui em corpos humanos. Alguns cristãos acreditavam que a morte de
Jesus e sua ressurreição não tinham nenhuma relação com a salvação, e alguns
cristãos acreditam que Jesus não tinha de fato morrido.
Cristianismos Perdidos é um curso que considera as variedades de
crenças e práticas nos primitivos dias do Cristianismo, antes que a igreja
decidisse o que era teologicamente aceitável e determinasse quais livros seriam
incluídos em seu canon da Escritura. Parte
da disputa sobre crença e prática na igreja primitiva era sobre o que deveria
ser aceito legitimamente como “cristão” e o que deveria ser condenado como
“heresia”. Este curso considera o debate para ortodoxia (i.e., crença correta) e a tentativa de classificar,
repelir e derrotar a heresia (i.e.,
falsa crença). Em particular, o curso tenta compreender os cristãos que foram
mais tarde considerados heréticos em seus próprios termos e explorar os
escritos que estavam disponíveis e poderiam ser apelados para apoio de seus
pontos de vista.
Os cristãos hoje, naturalmente,
pensam tipicamente sobre o Novo Testamento como a base para uma correta
compreensão da fé. Mas o que era o Cristianismo antes que existisse o Novo
Testamento? É impressionante como todos os grupos cristãos antigos, com suas
diferentes visões sobre Deus, Cristo, salvação e o mundo, tivessem livros que –
como aqueles que eventualmente entraram no Novo Testamento – alegavam serem
escritos pelos próprios apóstolos de Jesus. Alguns destes pseudopigráficos
(i.e., falsamente atribuídos) livros foram descobertos por arqueologistas e
beduínos no Egito e no Oriente Médio em tempos modernos, evangelhos, por
exemplo, que alegam a serem escritos pelos discípulos de Jesus Pedro, Tomé e
Filipe. Estes pseudepigráficos retratam uma diferente compreensão do
cristianismo de um que se tornou dominante na história da religião e é familiar
a maioria das pessoas hoje. Neste curso, nós estudaremos estes livros
não-canônicos e as formas de crença cristã que eles representavam, do segundo e
terceiro séculos, i.e., do tempo imediatamente posterior à morte dos apóstolos
de Jesus até o tempo quando muitos destas primitivas compreensões do
Cristianismo tinham sido eliminadas da igreja, deixando a única forma de
“ortodoxia” que se tornou triunfante no início do século quarto com a conversão
do Imperador romano Constantino.
O curso é dividido em muitos
componentes. Depois de uma lição introdutória que lida com a diversidade ampla
do Cristianismo nos mundos moderno e antigo, nós iniciaremos uma discussão de
três formas de Cristianismo que foram altamente influentes durante o secundo e
o terceiro séculos cristãos: os Ebionitas, um grupo de cristãos que insistia em
manter sua identidade judaica enquanto acreditando em Jesus; os Marcionitas, um
grupo que rejeitou tudo o que era judaico de suas compreensões de Jesus; e os
Gnósticos, um grupo de vasto alcance e que compreendia que este mundo era um
local maligno de prisão do qual alguém poderia escapar por aprender a verdade
sobre sua identidade através dos ensinamentos secretos de Jesus.
Nós então começaremos por
considerar, em lições separadas, importantes livros lidos e reverenciados por
cada um destes grupos e pelo grupo que representava os antepassados do tipo de
Cristianismo que eventualmente se tornaria dominante no Império, um grupo que
classificaremos como “proto-ortodoxo” (porque eles mantiveram os pontos de
vista que eventualmente vieram a serem declarados ortodoxos). Muitos destes
livros são pseudônimos, forjados em nome de um ou outro dos apóstolos.
Incluídos em nossa consideração estarão os “Evangelhos Gnósticos”, tais como o
Evangelho de Tomé; os “Evangelhos da Infância”, que narram eventos fictícios da
vida de Jesus como uma criança e adolescente; “Atos Apócrifos”, que narra
descrevem as divertidas fugas dos muitos apóstolos de Jesus (incluindo a mulher
Tecla) após sua morte; as “Epístolas Apócrifas” alegadamente escritas pelo
apóstolo Paulo ou outros; e um apocalipse apócrifo, uma descrição de uma viagem
guiada pelo céu e inferno dado ao apostolo Pedro pelo próprio Jesus.
Após considerar estes fascinantes
documentos, muitos dos quais vieram ao nosso conhecimento apenas durante o
século vinte, nós voltaremos a considerar os conflitos entre as várias formas
de cristianismo nos primeiros séculos, para ver como ver como é que se
compreender a fé que veio a ser dominante e esmagar toda sua oposição. Na seção
final do curso, nós consideraremos como o partido proto-ortodoxo se revestiu de
poder eclesiástico em seu clero (formando a estrutura e hierarquia que se
tornaria o suporte da igreja durante a Idade Média); desenvolveu o seu canon da Escritura (o Novo Testamento,
que não foi finalizado como canon até
o fim do século quatro); e formulou credos padrões(como, por exemplo, o Credo
dos Apóstolos e o Credo Niceno) como declarações de fé a serem adereçadas a
todos os crentes, eliminando assim a possibilidade de compreensões alternativas
do que poderia significar ser um seguidor de Jesus. ∎
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